...Estamos na transamazônica. Invenção progressista da década de 50 movida por uma lógica desenvolvimentista que visava integrar a Amazônia. Integrar para explorar. Nenhum governo até hoje venceu a floresta. Somente hoje a estrada começa a receber asfalto, 60 anos depois, e isto ainda é jogado como contrapartida governamental diante do estrago que será gerado pela construção de mais uma usina em cidades a margem da rodovia, como Altamira, nosso destino. A estrada é uma ferida aberta na floresta, que sangra, e mancha todo o em torno, suja o verde de barro, o verde de vermelho...
...A floresta sobe, e a estrada é péssima. Poucos veículos passam por nós. Vez ou outra aparecem pontes de madeira claramente frágeis, e na maior parte do caminho, somos cercados por paredões de barro entre 10 e 20 metros, que teriam dificuldades de se sustentar diante de uma chuva, fenômeno freqüente na região. Vou para frente do ônibus, na cabine do motorista e ele me fala com segurança, “se chover pode parar e esperar porque não vai mais”.
Ainda assim, pessoas vivem a margem da tranzamazônica. Algumas poucas pessoas e muitas centenas de cabeças de gado, natural em um país onde a concentração de terra é status quo, sobretudo em uma região esquecida desde os tempos de sua “inauguração”. Seguimos em linha reta, e ao longo dos morros e depressões, a vista da janela era tomada por pastos que avançavam no horizonte. Terra a perder de vista. Terras do meio. Tantas e de tão poucos. Terras vermelhas de sangue, sangue de extermínio, sangue de massacre.



23.10.2011